
A dislexia é uma condição frequentemente mencionada no contexto educacional. Mas ainda é difícil de ser claramente explicada em um termo. Por essa razão, pesquisadores propõem uma definição universal para melhorar o apoio a indivíduos com essa condição.
A nova definição descreve a dislexia como um conjunto de dificuldades de processamento que afetam a leitura e a escrita, com ênfase em fatores como memória de trabalho e velocidade de processamento.
Por que é difícil definir a dislexia?
A dificuldade em definir a dislexia se deve a diversos fatores. Entre eles, a variedade de manifestações da dislexia, a complexidade de seu diagnóstico, assim como a sobreposição com outras dificuldades de aprendizagem.
Primeiramente, a dislexia não se apresenta da mesma forma em todas as pessoas. Trata-se de um transtorno específico de aprendizagem com base neurológica, caracterizado principalmente por dificuldades no reconhecimento preciso e fluente de palavras, na habilidade de decodificação e na ortografia. Contudo, essas dificuldades podem variar em intensidade e combinação. Assim, a identificação do transtorno é um processo altamente individualizado.
Além disso, não existe um único teste capaz de diagnosticar a dislexia de forma definitiva. Isso dependerá de uma avaliação multidisciplinar que envolve psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e, às vezes, neurologistas.
Outro ponto que contribui para a dificuldade em definir a dislexia é a falta de consenso em algumas áreas sobre sua etiologia e mesmo sobre a terminologia usada. Alguns especialistas preferem falar em ‘dificuldades de leitura de base fonológica’, enquanto outros defendem o uso do termo dislexia com base em critérios mais amplos.
Por fim, a dislexia muitas vezes convive com outros transtornos, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o que pode mascarar seus sinais ou dificultar o diagnóstico correto.
Proposta de definição universal para dislexia
A falta de definição universal para a dislexia prejudica o apoio a indivíduos com essa condição.
“A dislexia é um distúrbio de aprendizagem complexo que pode parecer diferente de pessoa para pessoa. Pode ter impactos duradouros na educação e, em seguida, na vida profissional se não for identificado e tratado adequadamente”, diz Julia Carroll, professora de Psicologia da Educação da Universidade de Birmingham. “Por não ter um processo universal para identificar e apoiar pessoas com dislexia, estamos decepcionando muitas de nossas crianças e jovens.”
A proposta para a nova definição também considera a coexistência de outras dificuldades de desenvolvimento e sugere um processo padronizado de avaliação em quatro etapas para diagnosticar e apoiar adequadamente pessoas com dislexia:
- Considerar e descartar outros fatores. Avaliar e eliminar possíveis causas alternativas para as dificuldades de leitura, escrita ou ortografia, como problemas de visão, audição ou métodos de ensino inadequados.
- Coletar informações e intervir precocemente. Reunir dados adicionais sobre o indivíduo e implementar intervenções rápidas e iniciais, observando sinais de alerta que possam indicar dificuldades persistentes.
- Observar e avaliar a resposta à intervenção. Monitorar como o indivíduo responde às estratégias de apoio implementadas, registrando os progressos ou a falta deles.
- Encaminhar para avaliação especializada. Caso as intervenções não sejam eficazes, encaminhar o indivíduo para uma avaliação abrangente realizada por um profissional qualificado, como um psicólogo ou professor especializado.
“Uma definição de um distúrbio de aprendizagem, como a dislexia, deve permitir que pesquisadores e profissionais estabeleçam consistentemente o que deve ou não ser considerado ‘dislexia’, quais os limites do diagnóstico devem incluir e quais elementos são importantes na avaliação”, explica Julia.