
Alguns biólogos já usam a expressão ‘apocalipse dos insetos’ para se referir à diminuição das populações desses pequenos animais em todo o mundo. Agora, uma nova questão vem à tona: eles também estão diminuindo de tamanho?
Essa questão está chamando a atenção de pesquisadores e do público em geral. Há indícios de uma possível redução no tamanho de alguns grupos. Além do mais, isso pode estar relacionado com as profundas mudanças ambientais que o planeta enfrenta atualmente.
Fatores ambientais e adaptações dos insetos
Entre os fatores que possivelmente desencadeiam essa mudança, o mais citado diz respeito ao aumento da temperatura global.
Em ecologia, existe o princípio de que, em ambientes mais quentes, muitos organismos podem desenvolver tamanhos menores como uma adaptação para dissipar calor de forma mais eficiente.
Esse fenômeno, conhecido como “regra de Bergmann” invertida, pode explicar por que, em determinadas regiões, insetos e outros ectotérmicos (organismos que dependem do ambiente para regular a temperatura corporal) apresentam redução em seu tamanho médio.
Além das mudanças climáticas, a perda de habitat, o uso intensivo de pesticidas e a poluição também afetam a disponibilidade de recursos e a qualidade do ambiente, impondo pressões seletivas que podem favorecer indivíduos menores.
Em situações de escassez de alimento ou de recursos, insetos de menor porte podem ter vantagem reprodutiva, e, assim, despendem menos energia para sobreviver e se reproduzir.
Evidências científicas e desafios na pesquisa
Estudos comparativos ao longo de décadas têm apontado para alterações nas características morfológicas de certas populações de insetos. Por exemplo: em algumas regiões da Europa e América do Norte, pesquisadores observaram uma diminuição no tamanho médio de espécies de borboletas e besouros.
Em um estudo publicado na revista PLOS Biology, pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley e da Universidade de Washington em Seattle, ambas nos EUA, descobriram como diferentes espécies de insetos se adaptam às mudanças climáticas, com foco específico nos gafanhotos.
O estudo avaliou o impacto das mudanças climáticas nos últimos 65 anos sobre o tamanho de seis espécies de gafanhotos. Ele revelou que algumas, que hibernam ainda jovens, beneficiam-se de uma primavera mais precoce e verde. Consequentemente, elas crescem em tamanho ao longo dos anos. Enquanto isso, espécies que eclodem na primavera a partir de ovos postos no outono diminuem de tamanho, provavelmente devido à seca precoce da vegetação.
Essa diferença nas respostas das espécies às mudanças climáticas destaca a complexidade dos ecossistemas e a importância de entender os ciclos de vida dos insetos.
“Gafanhotos que aproveitam o aquecimento ficam maiores e saem mais cedo. Gafanhotos sob estresse ficam menores”, explicou Lauren Buckley, pesquisadora envolvida no estudo.
Implicações ecológicas e futuras pesquisas
A discussão sobre os impactos das mudanças climáticas nos insetos é importante, pois esses organismos desempenham papéis vitais nos ecossistemas. Por exemplo: polinização, controle de pragas, assim como decomposição de matéria orgânica. Além disso, fazem parte da cadeia alimentar.
Então, compreender quais espécies são “vencedoras” e “perdedoras” pode ajudar a prever e mitigar os efeitos das mudanças climáticas na biodiversidade e na saúde dos ecossistemas.
Caso a tendência de diminuição de tamanho em alguns insetos se confirme de forma mais abrangente, as implicações ecológicas podem ser significativas. Mudanças no tamanho corporal podem alterar a dinâmica dos processos, e assim, influenciar desde as relações predador-presa até a eficiência da dispersão de pólen.
Portanto, a questão não se resume apenas a uma curiosidade sobre dimensões, mas a um indicador de como os organismos respondem às pressões ambientais globais. Dessa forma, os estudos e o monitoramento sistemático de populações são fundamentais para compreender melhor essa dinâmica e orientar estratégias de conservação e manejo ambiental.