O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é uma coisa só. Condições atípicas de neurodesenvolvimento podem se manifestar de formas variadas entre as pessoas. Assim, exigem níveis de suporte distintos.
Segundo a psiquiatra Daniela Bordini, coordenadora do ambulatório de autismo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), há, contudo, um conjunto de características que podem indicar o transtorno.
“A primeira delas é ter desvio de desenvolvimento das habilidades sociais de comunicação, aquelas voltadas para o outro, e alguns padrões de comportamentos que podem ser repetitivos e diferentes da média das outras crianças”, afirma.
‘Sinais de alerta’ de transtorno do espectro autista
“Ninguém tem diagnóstico de autismo por uma característica isolada”, afirma Daniela. Mas há os chamados “sinais de alerta”, que podem ajudar os pais a identificar condições atípicas.
Algumas dessas características estão relacionadas à comunicação com o outro. “As crianças são mais sérias, com dificuldade de manter o contato visual. Não respondem quando a mãe chama pelo nome. Elas também têm dificuldades de usar gestos para se comunicar quando ainda não aprenderam a falar”, explica.
Esses pequenos podem se aproximar dos amigos de uma maneira considerada inadequada por pessoas que não são autistas, priorizam falar dos seus próprios interesses e têm dificuldade em escutar outras crianças.
Outros sinais de alerta são movimentos repetitivos. “Balançando as mãozinhas na altura dos olhos, balançando o tronco para frente e para trás, girando em torno de si”, descreve a professora. Especialistas entendem, conforme relato de adultos autistas, que esses movimentos servem como autorregulação contra o estresse.
“Também existe a alteração sensorial: são muito ou pouco sensíveis a algum estímulo”, diz Daniela. “Então, se incomodam bastante com alguns tipos de barulho, são sensíveis a determinados tipos de roupa, têm seletividade alimentar, mas, às vezes, não sentem dor quando se machucam. Os órgãos dos sentidos processam as informações de maneira alterada.”
Níveis de suporte
O TEA é dividido em três categorias chamadas de “níveis de suporte”.
O primeiro remete a pessoas com menos dificuldades verbais, que conseguem se comunicar pela fala e não têm deficiência intelectual associada, mas apresentam incômodo com mudança de rotina e comportamentos repetitivos. São, geralmente, diagnosticadas mais tarde.
“As características podem passar despercebidas. Quando chega o diagnóstico tardio, a sensação para essas pessoas é de alívio, entender o que acontece com elas. Entender que elas não eram ‘estranhas’, ‘esquisitas’. Que isso tem nome”, diz.
No segundo nível de suporte estão os autistas que conseguem ter algum nível de comunicação, mas ela não é fluida ou clara. Podem ser inflexíveis, mas ainda têm alguma independência.
Já o último nível engloba pessoas autistas que são mais dependentes. Elas têm muita dificuldade para se comunicar – geralmente essa comunicação não é verbal –, e apresentam alguma deficiência intelectual associada ao TEA.
Veja sinais que podem indicar se seu filho é autista:
- Isolamento. Fique atento a crianças mais sérias, com dificuldade de manter contato visual, que não respondem quando os pais chamam pelo nome. Geralmente, permanecem mais isoladas na escola e têm dificuldade em fazer amizades.
- Movimentos repetitivos. A criança autista costuma fazer movimentos repetitivos para se acalmar, como balançar as mãozinhas na altura dos olhos ou mover o corpo para frente e para trás.
- ‘Brincadeiras atípicas’. Em vez de brincar com o carrinho, ela direciona a atenção para uma das rodas e mexe somente naquela peça. Outro sinal é repetir o que foi dito por último pelos familiares ou o que ouviu no desenho, muitas vezes fora de contexto.
- Rotina. Observe se o seu filho se estressa ao mudar o caminho habitual da escola para casa. Ele também pode reagir mal à mudança de horário das atividades ou da disposição dos móveis.
- Interesse próprio. Priorização de interesses próprios. Crianças com autismo costumam focar muito em um determinado assunto, como bandeiras, dinossauros, entre outros. Elas decoram as informações sobre um tema e dedicam seu tempo a falar sobre ele.
Essas características podem ajudar a identificar o autismo, mas é necessário que os pais levem seu filho para um especialista, caso haja a suspeita, para que o diagnóstico seja confirmado.
“Tem pessoas que podem ter características isoladas, mas, para ter o diagnóstico, a gente entende que é preciso ter um nível substancial de sofrimento ou prejuízo funcional”, explica a professora. “O diagnóstico precoce pode amparar aquela pessoa em seu desenvolvimento.”