Desde cedo as crianças são instruídas a se comportar conforme as regras de polidez de nossa sociedade. Ensinamos a elas que a educação ajuda a enfrentar barreiras sociais com mais facilidade. Por exemplo: dizer “por favor” quando querem algo de alguém parece funcionar como um “abracadabra”, que desfaz qualquer obstáculo. No entanto, a palavra é mais estratégica do que mágica.
Um estudo publicado na revista Science, elaborado por uma equipe de sociólogos da Universidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA), EUA, mostrou que as pessoas usam a expressão “por favor” com pouca frequência. Além disso, se a usam, geralmente esperam uma negação ao seu pedido.
O estudo
Após observar as expressões faciais e comportamentos por 17 horas de conversas informais e naturais, gravadas em vídeo entre familiares, amigos, colegas de trabalho e estranhos, a equipe constatou que:
- Em apenas 7% dos casos de interação entre os indivíduos, a expressão “por favor” foi usada. E, quando usada, constatou-se que a intenção principal da maioria das pessoas era a de superar algum obstáculo previsto.
- Em cerca de metade dos casos, os indivíduos usavam a expressão para superar uma negação anterior. Por exemplo: uma mulher usou “por favor” ao pedir ao cônjuge que se sentasse à mesa de jantar depois que pedidos repetidos foram ignorados.
- Em cerca de um terço dos casos, a pessoa solicitada estava ocupada com outra atividade. Por exemplo: um homem usava “por favor” ao pedir para sua esposa fazer sopa, sabendo que ela estava ocupada lavando mamadeiras.
- As crianças e adolescentes se comportam como os adultos em situações semelhantes. Por exemplo: uma adolescente usou a expressão para pedir à mãe que comprasse um vestido quando esperava que ela dissesse não, porque a mãe já havia rejeitado um pedido semelhante anteriormente.
Regra do ‘por favor’
“Qualquer regra genérica – como dizer ‘por favor’ e ‘obrigado’ – não leva em conta a situação específica e nem sempre indica respeito ou educação”, explicou o pesquisador Andrew Chalfoun. “Também pode não ser muito eficaz”. Segundo ele, no contexto errado, essa expressão ainda corre o risco de soar insistente ou sem apelo.
Entretanto, gratidão é um sentimento transformador. Por isso, precisamos aprender a demonstrar interesse genuíno pelos outros. Dessa forma, devemos ensinar às crianças a ampliar o poder da empatia, exercer o senso de justiça e a reciprocidade. Isso significa que, mais do que tornar as expressões “por favor” e “obrigado” obrigatórias, precisamos responder às situações do dia a dia com base no respeito.