Caneta na mão: vamos conversar na sala de aula?

Pesquisadores destacam importância das discussões entre alunos e professores

Redação FamiliarIdades
Conversar pode melhorar a compreensão e a habilidade de escrita dos alunos. Foto: Getty Images.
Conversar pode melhorar a compreensão e a habilidade de escrita dos alunos. Foto: Getty Images.

Um estudo da Universidade de Exeter, na Inglaterra, destaca a importância de se conversar em sala de aula para o ensino da escrita. Ele enfatiza que os professores devem gerenciar discussões de maneira a ajudar os alunos a compreender as escolhas que os escritores fazem e os efeitos dessas escolhas nos leitores. 

Essas discussões metalinguísticas, ou seja, discussões sobre a escrita, permitem refletir sobre as decisões na hora em que estão com a caneta na mão. O estudo também sugere que momentos de diálogo especulativo e exploratório são essenciais para os alunos compartilharem suas impressões sobre os textos. 

A pesquisadora Ruth Newman acompanhou aulas do Ensino Médio na Inglaterra. A partir de suas observações, ela sugere técnicas de condução de conversa pelos professores. Por exemplo: o uso de questionamentos e explicitações. Isso pode ajudar os alunos menos ansiosos a participar e desenvolver suas habilidades de escrita.

A pesquisa reforça a ideia de que a formação contínua dos professores para melhorar o diálogo em sala de aula pode ter impacto positivo na aprendizagem e na escrita dos estudantes.

“O estudo reforça a importância de professores encontrarem espaço nas aulas para que todos respondam aos textos de forma especulativa e exploratória”, diz Ruth. “Isso pode envolver o interesse dos alunos e ajudá-los a desenvolver o que já sabem sobre escrita. Também dá aos professores a oportunidade de verificar a compreensão dos alunos.”

Conversar para melhorar a escrita

O estudo destaca várias técnicas de conversa que os professores podem usar para melhorar a compreensão e a habilidade de escrita dos alunos:

1. Andaimes discursivos

Esses ‘andaimes’ são estratégias que ajudam os alunos a estruturar suas ideias e compreensão durante a conversa. Uma sugestão é a de que os professores usem perguntas orientadoras ou criem momentos de reflexão que incentivem os alunos a pensar mais profundamente sobre as escolhas linguísticas que os escritores fazem.

Por exemplo: o professor apresenta aos alunos uma tabela com diferentes efeitos que as escolhas linguísticas podem gerar em um texto (ex.: tom humorístico, tom sério). Em seguida, pede que eles identifiquem esses efeitos em um parágrafo de um livro ou artigo.

2. Questionamento exploratório e especulativo

Permitir que os alunos respondam de forma aberta sobre textos que estão lendo ajuda a criar um diálogo mais rico. Essas perguntas exploratórias permitem aos alunos conectar suas próprias experiências ou interpretações ao que foi escrito.

Por exemplo: o professor pergunta “Por que você acha que o autor escolheu essa palavra específica em vez de outra? Qual seria o impacto se ele tivesse usado uma palavra diferente?”. Isso incentiva os alunos a refletirem sobre os propósitos das escolhas do escritor.

3. Movimentos responsivos na conversa

Os professores podem ajustar suas perguntas e respostas com base no que os alunos dizem, ajudando os jovens a desenvolver ideias e clarear pontos confusos.

Por exemplo: após um aluno dizer que a escolha de palavras torna o texto mais formal, o professor responde: “Interessante! Alguém consegue pensar em um exemplo contrário, em que o tom foi mais informal? Qual foi o impacto disso?”

4. Explicitação de escolhas de linguagem

É essencial que os professores expliquem de forma clara a relação entre as escolhas feitas pelos escritores e o impacto dessas escolhas no leitor. Isso aumenta a conscientização metalinguística dos alunos. Ou seja: a habilidade de pensar criticamente sobre como a linguagem é usada.

Por exemplo: “Nesse poema, o autor usa rimas alternadas para criar um ritmo fluido e envolvente. Como isso afeta sua experiência como leitor?”, explica o professor. Isso ajuda os alunos a entenderem o efeito prático das escolhas estilísticas.

5. Apoio aos alunos menos confiantes

Os alunos que têm mais dificuldade ou menos confiança podem precisar de suporte adicional, como perguntas específicas ou incentivo para verbalizar suas ideias.

Por exemplo: Durante a análise de um texto, o professor organiza os alunos em pares e fornece ao grupo menos confiante uma série de perguntas guia, como “Que emoção você sente ao ler este parágrafo? Por que acha que sente isso?”.

Essas técnicas tornam o diálogo em sala de aula mais inclusivo, reflexivo e eficaz para o ensino da escrita. 

“Gerenciar essa conversa sobre escrever é uma tarefa altamente qualificada. Requer manuseio cuidadoso e desenvolvimento de respostas imprevistas. Os alunos menos ansiosos ou capazes de contribuir também podem precisar de apoio e andaimes discursivos para acessar o significado textual e verbalizar o pensamento”, afirma Ruth.

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