Autismo: quem não fala pode ser alfabetizado?

De acordo com pesquisadores dos EUA, sim, isso é possível

Redação FamiliarIdades
Habilidades de leitura e escrita podem se desenvolver de maneiras não tradicionais em pessoas com autismo não verbal. Foto: Getty Images.
Habilidades de leitura e escrita podem se desenvolver de maneiras não tradicionais em pessoas com autismo não verbal. Foto: Getty Images.

Pessoas autistas que não possuem habilidades verbais foram, por muito tempo, consideradas inaptas para a alfabetização. Contudo, uma pesquisa recente revela que muitos desses indivíduos são capazes de aprender a ler e a escrever. 

O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, levanta a possibilidade de que os indivíduos autistas que não falam possam se comunicar por meio da escrita. Isso representa cerca de um terço da população com autismo.

Este achado desafia a noção convencional de que a fala é um pré-requisito para a alfabetização. O trabalho também sugere que as habilidades de leitura e escrita podem se desenvolver de maneiras não tradicionais em pessoas com autismo não verbal.

Segundo o professor de Psicologia Vikram Jaswal, principal autor do artigo, “se assumirmos que alguém que não pode falar não entende, isso limita as portas que abrimos para ele, já que podemos nem tentar descobrir o que ele entende”.  

“Nosso estudo mostra que a capacidade de linguagem, aprendizagem e alfabetização de pessoas autistas não falantes foi seriamente subestimada”, diz o professor.

Este achado é significativo, pois destaca a importância de avaliar e apoiar as capacidades de comunicação não tradicionais. Além disso, pode levar a métodos de ensino mais inclusivos e adaptados às necessidades individuais de aprendizagem.

Autismo e o entendimento de letras, palavras e frases

A equipe de Jaswal desenvolveu um método semelhante ao arcade Whac-a-Mole (uma espécie de jogo da toupeira), exigindo que os participantes tocassem nas letras exibidas em um tablet assim que elas se iluminassem. 

As letras podiam se iluminar em sequência para compor frases conhecidas pelos participantes ou aleatoriamente, sem determinar nenhum sentido.

Ao aplicar o teste aos autistas que não falam, os pesquisadores consideraram que uma pessoa alfabetizada poderia prever a próxima letra em uma frase que ouviu falar em voz alta. Portanto, essa pessoa responderia mais rapidamente às sequências de letras que compõem uma frase. 

Porém, mais da metade do grupo amostral de 31 participantes autistas não falantes respondeu da mesma forma que um indivíduo alfabetizado. Isso mostrou que, apesar de a maioria dos participantes não terem educação formal em alfabetização, ela possui habilidades para desenvolver uma compreensão de como a linguagem escrita funciona.

“A sociedade assume que as pessoas que não podem falar são incapazes de entender a linguagem ou aprender a ler ou escrever”, explicou Jaswal. “Mas nossas descobertas sugerem que muitas pessoas autistas que não falam têm habilidades básicas de alfabetização.”

Segundo ele, com instrução e suporte adequados, pode ser possível aproveitar essas habilidades para fornecer acesso a formas escritas de comunicação como uma alternativa à fala. Dessa forma, essas pessoas teriam mais oportunidades educacionais, de emprego e sociais. 

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