
O tom absoluto, também conhecido como ouvido absoluto, é a capacidade de identificar ou reproduzir uma nota musical sem a necessidade de uma referência externa. Por exemplo: se alguém ouvir um piano tocando uma nota aleatória, ela será capaz de dizer com precisão que é um “dó” ou um “lá”, mesmo não comparando a outra nota conhecida.
Durante muito tempo, essa capacidade foi vista como um dom raro, reservado a uma pequena parcela da população. Mas seria o tom absoluto realmente um privilégio de poucos, ou seria possível desenvolvê-lo com treinamento?
O mito do dom inato para o tom absoluto
Pesquisas sugerem que apenas cerca de 1 a 5% das pessoas possuem o ouvido absoluto. Entre músicos renomados, essa porcentagem pode ser ligeiramente maior. Tradicionalmente, acreditava-se que isso era herdado geneticamente e dependia de uma exposição precoce à música, especialmente na infância, quando o cérebro está mais receptivo a padrões sonoros.
No entanto, um estudo recente da Universidade de Surrey, no Reino Unido, indica que a plasticidade cerebral permite o desenvolvimento dessa capacidade mesmo na fase adulta.
Assim, pessoas mais velhas também podem adquirir essa habilidade por meio de treinamento rigoroso. Segundo a pesquisadora Yetta Wong, “com treinamento focado, os adultos podem adquirir essa notável habilidade, assim como aprendem outras habilidades cognitivas complexas.”
Preparem os ouvidos e a memória
A pesquisa envolveu 12 músicos adultos de diferentes níveis de experiência que participaram de um programa de treinamento online de oito semanas. Ele promoveu o aprendizado da afinação absoluta, ou seja, da capacidade de identificar notas musicais a partir de sons memorizados por ele, sem outra referência.
Portanto, o treino minimizou a dependência de estratégias de afinação relativa, ao privilegiar a comparação de notas gravadas na mente com as notas externas ouvidas pelos indivíduos. Além disso, propiciou o feedback, ou a resposta a esses estímulos, durante os testes. No treinamento os participantes também foram obrigados a completar o nível final várias vezes.
Portas abertas para um ouvido refinado
Os participantes aprenderam a identificar uma média de sete tons musicais com 90% de precisão ou mais. Dois deles alcançaram um desempenho igual ao daqueles com ouvido absoluto.
Alan Wong, que também participou do estudo, explicou que “a pesquisa tem implicações significativas para a compreensão da cognição e aprendizado musical”. Segundo ele, os resultados abrem as portas “para músicos de todas as idades explorarem e desenvolverem sua musicalidade em todo o seu potencial”.