
O racismo cultural é uma forma sutil, porém profundamente enraizada, de discriminação. Ele desvaloriza ou inferioriza culturas que não se alinham aos padrões dominantes. Ao contrário do racismo biológico, que se baseia em características físicas, atinge elementos como língua, religião, costumes, vestuário, culinária e expressão artística. Assim, passa a ideia de que algumas culturas são superiores a outras.
Portanto, ocorre quando culturas são invalidadas ou deslegitimadas por serem consideradas inferiores, refletindo preconceitos e discriminações.
Manifestações do racismo cultural
As manifestações incluem hierarquização de culturas, uso de linguagem preconceituosa e críticas às práticas culturais. Além disso, estereótipos, negação da história de grupos marginalizados, bem como apropriação cultural.
Essa forma de racismo se manifesta quando práticas culturais de povos historicamente marginalizados – como indígenas, africanos, asiáticos ou populações tradicionais – são ridicularizadas, estigmatizadas ou apagadas, enquanto elementos dessas mesmas culturas são apropriados sem reconhecimento ou respeito.
É comum, por exemplo, que nomes, roupas ou danças de origem africana sejam rejeitados quando associados às comunidades negras, mas celebrados quando adotados por pessoas brancas em contextos da moda ou do entretenimento.
O racismo cultural também está presente em sistemas educacionais que ignoram ou minimizam as contribuições de culturas não ocidentais, e em políticas públicas que não reconhecem a pluralidade cultural de um país.
Consequências nefastas
Ele contribui para a exclusão social e para a perpetuação de estereótipos, tornando difícil o fortalecimento da identidade e da autoestima de povos minorizados.
Não somente isso: ele também causa impactos psicológicos, divisão social, deslegitimação de culturas e desigualdades no acesso à educação e recursos.
Identidade cultural afetada
O racismo cultural afeta a identidade cultural ao invalidar e deslegitimar culturas, tratando-as como inferiores e desprezando suas tradições e história. Isso leva a:
- Epistemicídio. A eliminação de saberes e práticas culturais tradicionais, especialmente de comunidades negras, indígenas, ciganas e outras culturas populares.
“É o discurso da eugenia, que se disfarçou em racismo cultural. Em que ninguém se diz racista, mas de uma certa forma, tem um posicionamento cultural superior. E nós negros, e também indígenas, ciganos, essas culturas populares, não fazemos parte (…) Ao se privar uma comunidade tradicional de sua cultura, ou de formas de manter viva a sua cultura, estamos diante do epistemicídio, o assassinato de saberes e de fazeres”, explicou Adegmar José da Silva, Candieiro, do Centro Cultural Humaitá e coordenador nacional da Rema (Rede de Matriz Africana), ao Le Monde.
- Perda de patrimônio cultural. Grupos marginalizados podem sentir-se pressionados a abandonar suas tradições em favor da cultura dominante.
- Desvalorização da contribuição histórica. Há uma tentativa de apagar ou minimizar o impacto e as lutas de grupos marginalizados na sociedade.
Esses efeitos comprometem a diversidade cultural e podem gerar impactos psicológicos, como sentimentos de exclusão ou baixa autoestima, além de dificultar a preservação e valorização da riqueza cultural dessas comunidades.
Combater o racismo cultural é reconhecer e valorizar a diversidade como parte fundamental da construção de uma sociedade justa e plural. Isso envolve ações como a promoção de educação antirracista, o fortalecimento de espaços culturais diversos, o respeito às tradições e a escuta ativa das vozes historicamente silenciadas.