Silenciar a própria opinião leva a mudanças comportamentais

Visão da maioria acaba sendo sempre a mais seguida pelas pessoas

Redação FamiliarIdades
Indivíduos se omitem quando divergem da opinião da maioria devido ao medo do isolamento. Foto: Getty Images.
Indivíduos se omitem quando divergem da opinião da maioria devido ao medo do isolamento. Foto: Getty Images.

Quem não concorda com os pontos de vista da maioria se vê, muitas vezes, forçado a silenciar suas próprias ideias para evitar conflitos. Essa pressão social pode levar à autocensura. Afinal, em vez de se posicionar de maneira pública e firme, a pessoa tende a ficar mais conformista ou até mesmo imitar as atitudes majoritárias. Mas a opinião importa.

Esse comportamento já foi estudado antes. A Espiral do Silêncio, por exemplo, foi uma teoria da década de 1970 que afirmava que indivíduos omitem sua opinião quando divergem da opinião da maioria, devido ao medo do isolamento. O espiral seria a forma como isso se reproduz e escala na sociedade. Agora, uma pesquisa da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, revisitou o tema. 

Opinião sobre alimentos na universidade

Os pesquisadores perguntaram a 248 estudantes universitários o quanto eles eram favoráveis a que a instituição oferecesse mais alimentos vegetarianos ou veganos no campus. Os alunos classificaram seu apoio em uma escala de 1 (totalmente contra) a 7 (totalmente a favor).

Os participantes sabiam, por serem estudantes da universidade, que estavam inseridos em uma cultura amplamente favorável a alimentos à base de plantas. Também foram informados sobre as metas de sustentabilidade da universidade, que sinalizam apoio a alimentos sustentáveis.

Aos estudantes foram propostos três argumentos – motivos éticos, de saúde e ambientais – para darem suas opiniões contra ou a favor da proposta alimentar. 

Nem contra, nem a favor?

O resultado do estudo revelou que aqueles com pontos de vista minoritários se abstiveram de apresentar argumentos ou adotaram táticas para evitar o confronto. Por exemplo: demonstrar indiferença ou mudar de assunto.

Além disso, em um experimento prático, esses indivíduos frequentemente exibiram comportamentos alinhados com a opinião da maioria, ainda que isso fosse contra suas próprias crenças declaradas anteriormente.

“Descobrimos que os minoritários não apenas deixaram de falar. Eles conformaram seu comportamento com a maioria, o que é muito importante”, disse Nicole Sintov, coautora do estudo e professora associada de Comportamento, Tomada de Decisão e Sustentabilidade na universidade. 

“Eles não se conheciam. Então podem ainda não ter se sentido à vontade para compartilhar essas visões minoritárias”, ponderou a pesquisadora. “Mas algumas pessoas são totalmente auto-silenciadas, pois têm essa política de que simplesmente não discutirão assuntos controversos, sob nenhuma circunstância.”

Se não falo, não existo

Os pesquisadores ressaltaram que essa auto-supressão tem impactos preocupantes. Afinal, cria a percepção pública de que o ponto de vista minoritário é insignificante ou inexistente. 

“Esse ciclo vicioso em que os verdadeiros pensamentos das pessoas não são expressos se torna vicioso. E a crença pública é que a opinião da maioria é esmagadora e não pode ser mudada”, afirmou ela.

Segundo ela, “isso é especialmente verdadeiro se aqueles com pontos de vista minoritários estiverem acompanhando a maioria”. Assim, seria apenas mais uma evidência de que a opinião da maioria é dominante. 

“As descobertas exigem que as pessoas se tornem mais conscientes de suas próprias crenças e de como as expressam. Aqueles com visões minoritárias precisam estar dispostos a discutir suas verdadeiras crenças, mesmo que se sintam desconfortáveis”, completou. 

Redes sociais amplificam espiral

Com as redes sociais, em que opiniões minoritárias podem ser rapidamente silenciadas, não só pelo confronto direto, mas pela tendência de criar bolhas de discurso, o medo pode ser ainda mais. Da mesma forma, os usuários estão constantemente expostos a ideias semelhantes às suas, o que dá fôlego a grupos.

Esse silenciamento não significa necessariamente que as pessoas concordem com as ideias que estão sendo predominantes. Muitas vezes, elas continuam a nutrir suas crenças de forma privada. Mas o medo das consequências sociais impede que essas opiniões se tornem visíveis. 

Então, o desafio está em como criar um espaço mais acolhedor, onde a diversidade de pensamentos seja respeitada e as pessoas se sintam seguras para expor suas opiniões sem receio de sofrer discriminação ou repressão. Afinal, a civilidade pede manejo adequado das diferenças. 

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