Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram um cenário preocupante quando o assunto é o etarismo, também chamado de ageísmo ou idadismo. Segundo relatório publicado em 2021, uma em cada duas pessoas pode ter atitudes de discriminação por idade. Assim, além de dificultar a inclusão de indivíduos mais velhos no mercado de trabalho, também são responsáveis pela piora da saúde física e mental de boa parte da sociedade.
Contudo, a boa notícia é que campanhas permanentes de conscientização são estratégias eficientes para combater o problema. Por esse motivo, o documento produzido pela OMS orienta sobre políticas e leis que tratam do preconceito. Além disso, lista atividades educacionais que aumentam a empatia e atividades intergeracionais que reduzem o preconceito.
Xô etarismo
Segundo o professor Egídio Dórea, coordenador do Programa USP 60+ da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, o etarismo é o mais frequente e universal dos preconceitos.
“Muito provavelmente você também será vítima desse preconceito ao envelhecer, o que acarreta para a vítima uma série de consequências do ponto de vista de saúde mental, com maior risco de depressão, solidão e isolamento social”, afirma o professor, em entrevista à Rádio USP.
A própria OMS estima que 6,3 milhões de casos de depressão em todo o mundo estejam relacionados ao envelhecimento.
“O ageísmo pode alterar como nos vemos, pode criar divisões entre gerações, pode desvalorizar ou limitar nossa capacidade de beneficiar do que as populações mais jovens e mais velhas podem contribuir e pode reduzir oportunidades para saúde, longevidade e bem-estar, enquanto também tem consequências econômicas de longo alcance.“
– RELATÓRIO GLOBAL SOBRE ETARISMO
Paralelamente, diz Dórea, o etarismo também afeta a condição física das pessoas mais velhas. Dessa forma, há maior risco de declínio cognitivo, demência e doença cardiovascular, bem como a redução da expectativa de vida em até 7 anos e meio.
Mudança de atitude
“As pessoas precisam ser educadas para o fato de que envelhecer não traz somente questões negativas. Mas muitas questões positivas. Você está mais experiente, já passou por vários momentos na sua vida, é uma pessoa que sabe avaliar o seu eu de uma forma mais efetiva e contribui para a sociedade”, diz Dórea.
E não basta mudar apenas o pensamento: é preciso transformar a forma como nos comunicamos.
“A linguagem transmite significado e pode alimentar concepções errôneas que podem levar ao ageísmo”, ressalta o relatório. Pois palavras como idoso, velho ou sênior evocam estereótipos de pessoas universalmente frágeis e dependentes. Assim, frequentemente são usadas de forma pejorativa. Por isso, o órgão opta por termos “pessoa/população mais velha”, “pessoa/população mais jovem”.
Recomendações da OMS
- Investir em estratégias com base em evidências para prevenir e combater o etarismo. A prioridade deve ser rever políticas e leis, além de implementar intervenções educacionais e de contato intergeracional.
- Coletar mais dados para obter uma compreensão mais assertiva do problema para reduzi-lo. Essas informações devem ser coletadas em diferentes países. Mas, particularmente, em nações de baixa e média renda.
- Construir um movimento para mudar a narrativa sobre idade. Assim, governos, organizações da sociedade civil, instituições acadêmicas, empresas e outros atores sociais devem se unir para combater o preconceito.